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A Emergência Climática e os Direitos Humanos

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios da humanidade na atualidade, com impactos que transcendem questões ambientais e atingem diretamente os direitos humanos em diversas esferas. O aumento das temperaturas globais, o derretimento acelerado das calotas polares, a elevação do nível do mar e eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, inundações e furacões cada vez mais intensos, têm amplificado desigualdades e colocado em risco a dignidade de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Entre as populações mais afetadas, destacam-se aquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Comunidades indígenas, populações ribeirinhas, agricultores de subsistência e moradores de áreas urbanas periféricas enfrentam desproporcionalmente os efeitos dessa crise. 

A escassez de recursos básicos, como água potável e alimentos, agravada por desastres naturais, resulta em perdas de vidas, destruição de meios de subsistência e migração forçada. Esse cenário já contribuiu para o surgimento de refugiados climáticos, que muitas vezes carecem de proteção adequada em políticas públicas ou na legislação internacional.

Um exemplo concreto desse impacto ocorreu em 2024, no Rio Grande do Sul. De acordo com o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que cerca de 876.200 pessoas, distribuídas em 420.100 domicílios (8,8% da população e dos domicílios), foram diretamente afetados por enchentes e deslizamentos em 418 municípios que decretaram estado de calamidade ou emergência. 

Essas condições agravaram a situação de 310,4 mil pessoas e 138,8 mil famílias que já viviam em vulnerabilidade socioeconômica antes dos desastres, evidenciando como os eventos climáticos extremos ampliam desigualdades preexistentes. Ademais, segundo esse estudo publicado pelo Ipea, a área impactada pelas enchentes e deslizamentos abrangeu cerca de 16.126 km², afetando diretamente 484 municípios no estado.

A crise climática, além de comprometer a segurança habitacional, ameaça outros direitos fundamentais, como a produção de alimentos. A redução da produtividade agrícola, causada por secas, inundações e mudanças nos padrões climáticos, afeta diretamente populações que dependem da agricultura de subsistência. Conjuntamente, a escassez de água potável impacta a saúde pública e intensifica conflitos pelo controle de recursos hídricos, especialmente em regiões em desenvolvimento.

Por exemplo, o Oriente Médio e a África Subsaariana enfrentam graves desafios relacionados à escassez de água. De acordo com dados do World Resources Institute, as áreas com maior “estresse hídrico” – indicador que avalia a discrepância entre a oferta e a demanda de água – incluem o Oriente Médio e o norte da África, onde 83% da população vive sob condições de “estresse hídrico extremamente alto”. O sul da Ásia também enfrenta uma situação crítica, com 74% de sua população exposta a esse nível de pressão sobre os recursos hídricos.

As consequências também atingem culturas e territórios tradicionais. Comunidades indígenas e povos originários, que dependem de seus territórios para sustento e preservação cultural, enfrentam ameaças crescentes devido ao desmatamento e à desertificação. No Brasil, o avanço sobre a Amazônia não apenas agrava a crise climática global, mas também viola direitos fundamentais desses povos, cujo modo de vida está profundamente ligado à conservação da floresta.

Além disso, as desigualdades de gênero também são exacerbadas pelas mudanças climáticas. Mulheres e crianças, frequentemente em papéis centrais na gestão de recursos naturais, enfrentam desafios adicionais, como acesso limitado à terra e discriminação socioeconômica, dificultando sua capacidade de adaptação. Assim, a crise climática expõe e intensifica desigualdades já existentes, exigindo respostas integradas e inclusivas.

Diante desse cenário, é imperativo que as ações climáticas estejam centradas nos direitos humanos. Governos, empresas, organizações internacionais e a sociedade civil devem priorizar políticas públicas que promovam adaptação climática, como a construção de infraestruturas resilientes, investimentos em tecnologias limpas e sistemas de proteção social robustos. 

A justiça climática também deve ser um princípio norteador, garantindo que os países e populações menos responsáveis pelas emissões sejam adequadamente apoiados em seus esforços de adaptação e mitigação.

Por fim, enfrentar a emergência climática exige uma transformação profunda nos modelos de desenvolvimento global. Integrar os direitos humanos ao centro das políticas climáticas não é apenas uma questão de justiça, mas uma necessidade para garantir que as ações sejam inclusivas, equitativas e sustentáveis. Somente com esse enfoque será possível assegurar um futuro em que as gerações atuais e futuras possam viver com dignidade, segurança e igualdade.


Referências Bibliográficas

Conflitos envolvendo acesso à água batem recorde em 2022 com guerra na Ucrânia e disputas no Oriente Médio e na África. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/12/03/conflitos-envolvendo-acesso-a-agua-batem-recorde-em-2022-com-guerra-na-ucrania-e-disputas-no-oriente-medio-e-na-africa.ghtml Acesso em 18 jan. 2025

Conflitos pela água no mundo. Disputas e conflitos pela água no mundo. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/conflitos-pela-agua-no-mundo.htm. Acesso em: 18 jan. 2025


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