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A pressão cambial no Brasil e a relação com os (novos) Estados Unidos

Atualizado: 13 de fev.


Desde de a criação do Real, o Brasil adota um tripé macroeconômico que  sustenta a moeda e a economia brasileira. São os componentes do tripé: superávit primário (arrecadar mais do que gastar, desconsiderando os juros da dívida pública); meta de inflação (que, em 2024, foi de 3%, com tolerância de 1,5%); e câmbio flutuante (valor do real baseado na sua oferta e procura).

Goste-se ou não do tripé econômico, o fato é que ele, dentro dos padrões brasileiros, vem funcionando. Obviamente, a economia, assim como qualquer outra área de atuação humana, varia. Existem épocas que vai bem e épocas de crise.

  Entretanto, o cerne do texto, felizmente, não é a análise filosófica humana. A questão em pauta é o câmbio e como a relação do Brasil com os Estados Unidos o afeta diretamente.

O tripé, como o próprio nome demonstra, precisa das três pernas sustentáveis para se manter estável. Evidentemente, há uma correlação entre todos os componentes e um afeta diretamente o outro.

O superávit primário, quando não alcançado, impacta diretamente na trajetória da dívida pública, o que afeta a percepção dos agentes econômicos sobre a capacidade de o Estado honrar seus compromissos, o que gera uma retirada de investimentos internacionais, de modo a pressionar o câmbio, que, por sua vez, pressiona a inflação.

Aqui, não se nega a importância da política econômica interna, mas, infelizmente, não basta o Brasil fazer o dever de casa para se tornar uma economia estável, pelo menos não no curto prazo. Explico.

Desde 1944, com a resolução da Conferência de Bretton Woods, o dólar é a divisa internacional, ou seja, é a moeda utilizada na economia internacional, tanto para investimentos, quanto para o comércio. E essa convenção dá aos Estados Unidos uma espécie de super trunfo na economia global.

O dólar é, sem sombra de dúvidas, a maior arma geopolítica dos Estados Unidos, muito maior do que a maior bomba nuclear. Isso porque, os Estados Unidos, ao aumentar ou diminuir a taxa básica de juros, é capaz de alterar toda a lógica de investimentos em países que não possuem uma economia sólida.

A lógica é simples, se a moeda padrão é o dólar, os investimentos mais seguros são aqueles em dólar, mais especificamente, os títulos públicos do país que emite o dólar. Assim, partindo da premissa que os investidores internacionais não expõe o seu patrimônio a riscos desnecessários,  se o país que emite o dólar remunera bem os investidores, não há porque os investidores internacionais correrem o risco de alocar seu patrimônio em economias mais instáveis, como os países emergentes. A não ser que essas economias instáveis remunerem esses investidores muito bem.

Em outras palavras, quando o FED, Banco Central Americano, aumenta a taxa de juros, em regra, nós vemos uma valorização do dólar frente ao real. Por outro lado, quando há uma queda na taxa de juros americana, as moedas emergentes, dentre as quais se encontra o real, tendem a se valorizar.

O efeito no aumento do valor do dólar já é conhecido por nós, aumento de preços de produtos internos (inflação), e/ou aumento da taxa básica de juros brasileira, o que desaquece a economia.

O fato é que o Brasil e as outras economias emergentes são extremamente dependentes da política monetária americana. Em outras palavras, ainda que o Brasil fizesse tudo certo na questão macroeconômica, o que nunca ocorreu, ainda haveria uma forte dependência da economia americana.

Mas se desde 1999 o Brasil adota o câmbio flutuante, o que mudou na relação do câmbio? Os Estados Unidos.

Com a recente eleição do 47º Presidente Americano, Donald J. Trump, os Estados Unidos se tornaram imprevisíveis. A economia mais estável do mundo se tornou incerta e, obviamente, isso impacta diretamente o nosso câmbio.

Tanto é verdade que, de 1º de janeiro de 2025 até 24 de janeiro de 2025, o real se valorizou 5,09%. Mas o que mudou na economia brasileira em janeiro? Nada.

A valorização do real diz respeito às expectativas dos investidores em relação aos juros americanos.

Trump, que foi eleito com uma plataforma política inflacionária (imposição de tarifas aos produtos chineses, redução de impostos e deportação de imigrantes ilegais), já adotou um tom mais ameno na relação com os chineses, o que, por ora, indica que os produtos chineses não sofrerão tarifas e, em decorrência disso, se terá menos inflação nos Estados Unidos. Ao somar isso ao fato de que o novo presidente, em Davos, na Suíça, pressionou abertamente o FED a reduzir os juros.

Bingo, temos investidores internacionais indo para mercados que remuneram melhor, como o Brasil.

A conclusão de tudo isso é que o Brasil, assim como o resto do mundo, está na mão de um presidente americano, no mínimo, imprevisível (para não dizer insano) e, abertamente, populista. Então, a única certeza que nós temos é que o câmbio futuro é incerto.

Mas, obviamente, o governo brasileiro pode tentar melhorar o cenário do dólar. Para isso, é necessário dar um estabilidade na economia brasileira. Mais do que nunca, o governo precisa avançar na agenda da responsabilidade fiscal, pois, como já explicado em outro texto, o descontrole dos gastos públicos afeta diretamente o câmbio e a vida dos que mais precisam do governo.


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