top of page

Os Limites do Lobby no Brasil

Atualizado: 5 de nov. de 2024

O lobby, atividade de pressão exercida por grupos de interesse com o intuito de influenciar decisões políticas, é uma prática comum em diversas democracias ao redor do mundo. No Brasil, embora essa prática seja frequente, ela ainda é cercada de controvérsias, especialmente devido à ausência de uma regulamentação específica. Enquanto em países como os Estados Unidos existem leis claras que regulam, por aqui, a falta de normas mais definidas acaba gerando dúvidas sobre seus limites legais e éticos. Este cenário torna o debate sobre o lobby no Brasil essencial, especialmente em um contexto onde a transparência e a integridade nas relações entre o poder público e o setor privado são cada vez mais exigidas pela sociedade.

O termo começou a ser usado nos Estados Unidos no século XIX, quando o presidente Ulysses S. Grant apelidou de "lobistas" as pessoas que o abordavam no lobby do hotel Willard, pedindo apoio para suas causas. Com o tempo, essa prática de influenciar decisões políticas ficou conhecida como lobby, ganhando força na época de George W. Bush, que incentivou empresas de lobby a apoiarem o partido republicano

A sua prática é amplamente disseminada em diversas esferas de poder no Brasil, sobretudo no Legislativo e no Executivo. Grandes corporações, sindicatos, ONGs e outros atores empenham-se em influenciar políticas que afetam suas atividades. No entanto, ao contrário de países como os Estados Unidos, onde existe uma regulamentação detalhada – como o Lobbying Disclosure Act de 1995, que exige o registro e a divulgação das atividades de lobistas – o Brasil ainda não conta com uma legislação específica que regule essa prática de forma transparente e uniforme.

A falta de regulamentação cria um cenário de informalidade, em que muitas vezes acontece nos bastidores, sem a devida prestação de contas à sociedade. Essa ausência de regras claras gera incertezas jurídicas, dificultando a diferenciação entre a prática legítima e práticas ilícitas de influência. Projetos de lei como o PL nº 1.202/2007, que propunha uma regulamentação mais clara, ainda não foram aprovados. Isso perpetua a informalidade e reforça a percepção negativa da sociedade em relação à atividade.

Em função dessa lacuna legislativa, o lobby no Brasil acaba sendo regulado de forma indireta pelo Código Penal, que prevê, por exemplo, o crime de tráfico de influência no artigo 332. Esse artigo tipifica como crime a ação de influenciar indevidamente um funcionário público em troca de vantagens ilícitas, o que pode ser aplicado a práticas irregulares de lobby. Entretanto, essa regulação indireta não resolve a questão da prática legítima, o que a mantém em um limbo jurídico.

A sua falta de transparência, no Brasil, é um dos principais fatores que geram desconfiança e o associam à corrupção. O escândalo dos "anões do orçamento", na década de 1990, é um exemplo emblemático da sua falta de controle. Na época, parlamentares foram acusados de desviar recursos públicos para atender interesses de lobistas. Casos como esse reforçam a necessidade urgente de se estabelecer um marco regulatório que traga maior clareza e controle sobre a prática.

Em contrapartida, existem exemplos de lobby transparente no Brasil. A Confederação Nacional da Indústria, por exemplo, é uma organização que promove encontros e debates públicos com parlamentares para defender os interesses do setor industrial. Essas ações são realizadas de forma aberta e com prestação de contas à sociedade, demonstrando que é possível realizá-lo de forma ética e transparente. 

Uma regulamentação eficiente deve prever a criação de registros públicos, onde lobistas e seus representados sejam obrigados a divulgar suas atividades e objetivos. Além disso, seria importante implementar códigos de conduta, que estabeleçam os limites éticos para a prática, e mecanismos de fiscalização rigorosos, que garantam o cumprimento dessas normas. A experiência de países que já possuem regulamentações detalhadas pode servir de inspiração para a construção de um modelo brasileiro.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Lobbying Disclosure Act exige que todos os lobistas registrem suas atividades junto ao governo, informando quais questões estão promovendo e para quem trabalham. Isso traz transparência ao processo e permite que a sociedade acompanhe quais interesses estão sendo defendidos. A União Europeia também possui regulamentações que obrigam lobistas a se registrarem e cumprirem um código de conduta para garantir que suas atividades sejam realizadas de forma ética.

Adotar um modelo semelhante no Brasil não só traria mais transparência à prática, como também poderia ajudar a melhorar a sua percepção pública. Quando realizada de maneira aberta e responsável, a defesa de interesses por meio do lobby pode contribuir significativamente para o processo democrático, garantindo que diferentes setores da sociedade tenham voz nas discussões políticas.

Além de evitar que seja utilizado como ferramenta para práticas corruptas, uma regulamentação adequada traria benefícios tanto para o setor público quanto para a sociedade. Para o governo, a transparência nas atividades de lobby permitiria uma melhor gestão das influências que afetam a tomada de decisões, possibilitando que essas decisões sejam mais equilibradas e justas. Para a sociedade, a regulamentação permitiria um maior controle social sobre o processo político, garantindo que os interesses defendidos por lobistas sejam legítimos e não prejudiquem o bem comum.

O debate sobre a sua regulamentação no Brasil é urgente e necessário. A ausência de uma legislação clara dificulta a distinção entre a legítima defesa de interesses e práticas ilícitas, como o tráfico de influência. Para garantir que o lobby contribua de forma positiva para o processo democrático, é imprescindível a criação de uma legislação que promova transparência, responsabilidade e ética.

Adotar medidas que incentivem a transparência, como o registro obrigatório de lobistas e a divulgação pública de suas atividades, ajudaria a construir um ambiente de maior confiança entre a sociedade e os grupos de interesse. Assim, poderia ser uma ferramenta legítima e eficaz para a defesa de interesses, sem comprometer a integridade das instituições públicas.

Se bem regulamentado e fiscalizado, o lobby pode ser um importante aliado no fortalecimento da democracia brasileira, permitindo que a voz de diferentes setores da sociedade seja ouvida de maneira justa e equilibrada.


Posts recentes

Ver tudo

Comments


Instagram: @Jornal.Tres

E-mail: Jornal.tr3s@gmail.com

Brasília-DF​

Fique informado, junte-se à nossa newsletter

Obrigado pela inscrição!

bottom of page